domingo, 11 de maio de 2025

A vaca barrosã


O melhor bicho do mundo tem cornos e mora em Montalegre
Pode-se dizer muita coisa da vaca barrosã — e eu direi todas —, mas há uma verdade que se impõe: é o bicho mais bonito deste país, e provavelmente de todos os outros. Há um jeito aristocrático, um desdém pachorrento no andar daquela criatura, que não se aprende em lado nenhum. Vem com o sangue. E é sangue nobre, esse. Daqueles que andam ao frio, que sabem o que é carregar o mundo nas costas, ou pelo menos a aldeia. Há séculos que assim é. E é assim que deve continuar.
Montalegre, essa pátria rija com nevoeiros interiores e exterioridades francas, recebe a partir de hoje — e, como sempre, bem — a primeira mostra nacional das 25 raças autóctones do Norte. Um certame com nome de classe alta: Património Enogastronómico. Tem vinho, tem paladar e tem alma. E se o nome assusta, que não assuste. O que há lá é aquilo que interessa: bicharada boa, gente, comida séria e orgulho.
A vaca barrosã é, para mim, a rainha da festa. Porque é elegante, sim, mas sobretudo porque sabe estar. Não se apressa, não se perturba, não precisa de saltar à corda para merecer aplauso. Com ela, a natureza esculpiu tudo: a força, a forma e aquele ar de quem, mesmo em silêncio, tem razão.
É aqui, mesmo aqui, no Barroso, que o mundo agrícola tem o seu coração. E por isso, quando a vaca barrosã passa, convém sair do caminho. Por respeito, claro. Mas também por reconhecimento. Porque aquilo não é só um animal. É história, é património, é identidade.
E é bonita, caramba. Bonita como se fosse feita para ser olhada e lembrada. Como todas as coisas que valem a pena.

Maria José Afonso - Rádio Montalegre


 

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