sábado, 9 de agosto de 2025
sexta-feira, 8 de agosto de 2025
A nossa gente
1. Pai da Amélia
2. António da Carlota
3. João Chasco
4. Paradela (filho da Miquelina)
5. Domingos da Carlota
6. Fernando do Brás
7. João da Branca
8. Aníbal do Brás
quarta-feira, 6 de agosto de 2025
terça-feira, 22 de julho de 2025
terça-feira, 8 de julho de 2025
sexta-feira, 4 de julho de 2025
terça-feira, 1 de julho de 2025
sexta-feira, 20 de junho de 2025
terça-feira, 3 de junho de 2025
terça-feira, 27 de maio de 2025
segunda-feira, 19 de maio de 2025
domingo, 18 de maio de 2025
domingo, 11 de maio de 2025
A vaca barrosã
O melhor bicho do mundo tem cornos e mora em Montalegre
Pode-se dizer muita coisa da vaca barrosã — e eu direi todas —, mas há uma verdade que se impõe: é o bicho mais bonito deste país, e provavelmente de todos os outros. Há um jeito aristocrático, um desdém pachorrento no andar daquela criatura, que não se aprende em lado nenhum. Vem com o sangue. E é sangue nobre, esse. Daqueles que andam ao frio, que sabem o que é carregar o mundo nas costas, ou pelo menos a aldeia. Há séculos que assim é. E é assim que deve continuar.
Montalegre, essa pátria rija com nevoeiros interiores e exterioridades francas, recebe a partir de hoje — e, como sempre, bem — a primeira mostra nacional das 25 raças autóctones do Norte. Um certame com nome de classe alta: Património Enogastronómico. Tem vinho, tem paladar e tem alma. E se o nome assusta, que não assuste. O que há lá é aquilo que interessa: bicharada boa, gente, comida séria e orgulho.
A vaca barrosã é, para mim, a rainha da festa. Porque é elegante, sim, mas sobretudo porque sabe estar. Não se apressa, não se perturba, não precisa de saltar à corda para merecer aplauso. Com ela, a natureza esculpiu tudo: a força, a forma e aquele ar de quem, mesmo em silêncio, tem razão.
É aqui, mesmo aqui, no Barroso, que o mundo agrícola tem o seu coração. E por isso, quando a vaca barrosã passa, convém sair do caminho. Por respeito, claro. Mas também por reconhecimento. Porque aquilo não é só um animal. É história, é património, é identidade.
E é bonita, caramba. Bonita como se fosse feita para ser olhada e lembrada. Como todas as coisas que valem a pena.
Maria José Afonso - Rádio Montalegre
terça-feira, 15 de abril de 2025
sexta-feira, 28 de março de 2025
terça-feira, 25 de março de 2025
domingo, 2 de março de 2025
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
A nossa gente
Hoje voltei a encontrar a Arlete no meio de novelos, agulhas e um bolo de limão tão perfumado que quase se podia vestir. Lá estava ela, a mesma de sempre, sentada sem nunca estar parada. Há pessoas assim, que desafiam os números, como se o tempo tivesse desistido de as convencer. No cartão de cidadão dizem que tem 87 anos, mas toda a gente sabe que é mentira. Nem 70 lhe davam, e mesmo assim era favor.
O espaço era um museu vivo. Entre os teares e os crochés, o passado respirava sem precisar de legenda. A Arlete pegou num novelo como quem segura uma história inteira. “O que me custa”, começou, enquanto os dedos faziam magia, “é ver tanta gente a esquecer isto. O que é nosso.” Disse-o sem mágoa, mas com aquele tom de quem já viu o suficiente para saber como as coisas acabam.
Falámos como sempre falamos, de tudo e de nada. Das rendas antigas, do tempo que as mulheres fiavam com paciência, da vida que hoje ninguém quer esperar. “Agora fazem tudo a correr, como se tivessem pressa de acabar”, resmungou, com um meio sorriso. “Mas há coisas que precisam de tempo.” Fiquei ali, a vê-la alinhavar o passado no presente, e a pensar que talvez seja isso que nos anda a faltar: fiar melhor o tempo, em vez de o gastar sem pensar.
Chegou a hora do café e do vinho do Porto e do bolo de limão, e com eles vieram memórias servidas sem medida certa. Algumas doces, outras amargas, todas demasiado grandes para caberem num gravador. Algumas coisas só existem assim: no momento, sem repetição.
Maria José Afonso
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
A nossa gente
A D. Arlete estava ali, junto ao tear, com aquele ar de quem nunca esteve noutro sítio. Não era bem uma questão de estar – era mais uma espécie de permanência natural, como uma pedra no meio do rio. Entre novelos e linhas, cercada pelo que sempre foi dela, olhava para a vida com a serenidade de quem já aprendeu que a pressa só atrapalha.
À sua frente, alguém fazia perguntas. O Telemóvel era um intruso educado, demasiado moderno para aquele cenário, como um carro estacionado dentro de uma capela. A luz da tarde entrava pela janela, filtrada pelos sacos pendurados, que balançavam suavemente, cúmplices da conversa. Ali, tudo tinha o seu ritmo, um compasso próprio, como se o tempo também se deixasse fiar.
O tear de madeira , continuava a sua vigília. Já tinha visto de tudo: dias bons, dias maus, mãos trémulas e mãos certeiras. Sabia que não valia a pena apressar o fio nem a vida. E se falasse, talvez dissesse exatamente isso: que hoje anda tudo acelerado e já ninguém sabe dar à manivela sem estragar o bordado.
Maria José Afonso (Rádio Montalegre)
domingo, 26 de janeiro de 2025
domingo, 19 de janeiro de 2025
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