segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

A nossa gente


Carla Reis, 49 anos, vive em Braga, mas o coração pertence à Vila da Ponte. Todos os anos, sem falha, regressa à aldeia para participar na Matança do Porco, um ritual que conhece desde criança e que hoje mantém viva, mesmo que o futuro desta tradição pareça incerto. "É um gosto. Levantei-me às sete da manhã para estar aqui. Este dia traz-me memórias dos meus avós, da minha infância. Não consigo deixar de vir", confessa.
Entre as tarefas que desempenha com orgulho, destaca-se a recolha do sangue, o tratamento das tripas e a preparação da merenda, o famoso "mata-bicho". "É sempre o mesmo ritual. Antes de abrir o porco, fazemos uma merenda com o sangue cozido e bebemos um copinho. É um momento único, que une quem está cá", relata.
Carla lamenta, no entanto, o desinteresse das gerações mais novas. "Sou a mais nova a participar. Não vejo ninguém da minha idade, nem mais novo. Nem a minha filha se interessa." Apesar de morar longe, a paixão pela aldeia mantém-na ligada às suas raízes. "Sou apaixonada pela minha terra e tento preservar tudo o que me lembra o passado. Mas é triste ver que este saber, que vem dos meus avós, pode desaparecer."
O ambiente da Matança do Porco na aldeia mistura nostalgia e resistência. A figura de Carla simboliza uma luta silenciosa contra o esquecimento. Para ela, a Matança tem um significado especial, é um elo que liga o presente às gerações que fizeram da aldeia o que ela é.
Na Vila da Ponte, enquanto houver quem, como ela, resista ao abandono, o passado ainda terá voz.
E para ouvir esta terça feira, na grande reportagem da matança do porco na Vila da Ponte (22:00); sabado e domingo (08:00)
MJA


 

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