segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O combarro


Na manhã fria de Barroso, o combarro, um telhado sem paredes erguido no pátio da casa, desperta silencioso, guardando apenas lenha e fardos de palha. Já não protege os grãos dourados da última colheita, nem assiste à azáfama dos dias em que o milho e o centeio eram ali depositados com um gesto quase solene. Agora, os feixes de palha amontoam-se sob o telhado inclinado, cobertos de pó e silêncio, enquanto a lenha, seca e áspera, aguarda a lareira do inverno, como um último serviço à casa que ainda resiste.
O lavrador sai pela porta de madeira, como faz todas as manhãs. No rosto marcado pelo tempo, a pressa é menos do que antes, e o olhar pousa, por um instante, no combarro. Ele aproxima-se devagar, ajeita o chapéu, e com uma mão firme retira um tronco de lenha, pesado e nodoso, que lança ao ombro com o hábito de quem já não pensa no esforço. A palha permanece, intocada, uma sombra dourada sob o telhado escuro, esperando que os animais regressem ou que uma urgência qualquer reclame a sua utilidade.
Outrora, o combarro fora este simples abrigo improvisado, aberto ao vento e ao olhar de todos. Fora parte essencial da casa, erguido para preservar o sustento da família contra a humidade traiçoeira e as intempéries. Hoje, parece apenas um armazém improvisado, um depósito de sobras úteis, mas o seu telhado inclinado, sólido e resistente, continua ali, cumprindo a missão que lhe foi dada há décadas.
Ao meio-dia, as crianças correm pelo pátio e espreitam o combarro como se ele guardasse algo invisível. De vez em quando, um gato salta ágil sobre os fardos, procurando abrigo ou apenas brincando entre as frestas do telhado, onde a luz do sol dança em feixes tímidos. Nada ali parece extraordinário, mas o combarro permanece como uma peça da casa, uma parte viva da paisagem, embora agora menos necessário, menos notado.
Quando a tarde cai e as sombras das montanhas se alongam, o combarro observa, imóvel, o lavrador regressar. Mais alguns troncos retirados, o tilintar de um machado ali encostado. A lenha diminui lentamente, os fardos de palha acumulam pó, mas o velho telhado sem paredes resiste ao passar das estações. Um dia, quem sabe, voltará a guardar grãos, a ver mãos cuidadosas ajeitarem cestos de centeio ou milho. Até lá, permanece fiel ao que é: um abrigo silencioso, parte do que sobra quando a necessidade dá lugar ao hábito.
(2013)


 

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