António Branco, figura emblemática da aldeia, tornou-se um símbolo de persistência numa tradição que, para muitos, já se encontra em desuso. Aos 76 anos, carrega consigo o peso dos anos e o do seu chapéu, companheiro inseparável desde os seus 18. Este adereço é a materialização de uma identidade que remonta às raízes de um povo, a um tempo em que o vestuário para além da função prática, representava códigos sociais e culturais profundos.
Depois de uma boa conversa, com a simpática Alice, sua esposa, António, com um misto de curiosidade e desconforto lá ia falando com a jornalista. Pouco dado a conversas longas, respondeu laconicamente às perguntas sobre o chapéu, mas as suas palavras, entrecortadas por risos tímidos e pausas reflexivas, partilharam histórias de um passado que ele próprio parecia trazer na aba do seu acessório.
“Olhe, o chapéu tem muito que se lhe diga. Sempre usei, desde rapaz. Lá para os 18 anos, quando fui pra tropa, já levava um. Naquele tempo, não se via homem sem chapéu. Era o que se fazia. Agora, veja lá: parece que isso acabou. Mas eu gostei sempre de usar, pronto. Já faz parte de mim. Sem ele, não sou o António.”
As palavras de António remetem para um período em que o chapéu marcava o estatuto social, a maturidade e a transição para a vida adulta. Na ruralidade portuguesa, era símbolo de respeito e decoro, conferindo ao homem um certo “ar de importância”, como ele próprio descreve entre risos. “Aqui no Barroso, usar chapéu sempre foi coisa de homens fortes”, acrescentou.
A jornalista insistiu, intrigada pela relação simbiótica entre António e o seu chapéu:
“E onde compra os seus chapéus?”
“Ah, vou a Cabeceiras ou a Braga. Tem de se ter olho, sabe? Um bom chapéu é pra durar, protege tanto do sol como do frio. Mas agora não se vê disso. Os novos não ligam. Acham que é coisa de velhos. Eu cá uso sempre: na feira, na matança… só tiro quando vou à missa.”
O chapéu, revela-se um elemento de ligação à terra, às tradições e à comunidade. António é o reflexo de uma geração em que a moda não era regida por caprichos efémeros, mas por valores de continuidade e funcionalidade.
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